Toda a graça desse povo alberguista

Uma das coisas que mais me impressionaram nessa minha pequena passagem pela Europa foram as pérolas que ouvia de alguns hóspedes do albergue que fiquei/trabalhei. Entendo que pra muita gente albergue é novidade, mas calma lá, somar dois mais dois não é assim tão difícil. Eis as frases mais impressionantes:

• De um e-mail reservando um quarto. “Olá. Eu fiz uma reserva pra mim e três amigos num quarto quádruplo. Qual a probabilidade de eu e meus amigos termos que dividir esse quarto com mais gente?” (NÃO QUERIA TE CONTAR, MAS EXISTEM UMAS ALMAS QUE ASSOMBRAM O ALBERGUE...)
  
• De uma pessoa comprando cerveja no bar do albergue: “para comprar a cerveja, você tem que primeiro ir até a ticket machine e comprar um ticket, depois vir ao bar.”...Vinte minutos depois, volta o “cliente”..: “Pô, eu fui na máquina, pus o dinheiro, mas tudo o que saiu foi um papelzinho, eu não quero um papelzinho, por que não saiu a cerveja?” (JÁ EXPERIMENTOU EXPREMER O TICKET?)
  
• De um hóspede levando uma multa da polícia por ter urinado pela sacada (bêbado, óbvio) “não vi nenhum aviso dizendo que não podia...” (FALHA NOSSA..)
• Ao telefone, quando trabalhava na recepção: “Hostal x, boa tarde?” “Boa tarde, da onde você é?” “Sou do Brasil” “Que bom, você fala japonês?” (CLARO, É O DIALETO OFICIAL DO BRASIL)
• Sobre o café da manhã (lembre-se ALBERGUE não é HOTEL): “oi, vi que o café é das 8h às 10h, mas eu faço check out às seis, posso tomar café antes?” (SIM, NA PADARIA DA ESQUINA, PAGANDO)
• A los hermanos (em tempo,por que os chamam assim? Hermanos de quem, por favor?) Regras são regras, quando se diz não se pode consumir bebidas alcoólicas compradas fora do albergue sob pena de confisco é porque NÃO SE PODE CONSUMIR BEBIDAS ALCOÓLICAS COMPRADAS FORA DO ALBERGUE SOB PENA DE CONFISCO (para proveito do próprio staff, óbveo). Se eu vejo teu copo com um liquido amarelado, com cheiro de Red Bull com vodca, com jeito de Red Bull com vodca, com aparência de Red Bull com vodca e sendo eu a pessoa que está trabalhando no bar, é porque tonta não sou. E se vou te dar um aviso para guardar a bebida porque assim diz a regra, não me venha dizer, argentina de miércoles, que esto ES ZUMO DE UVA!
• Esta foi fora do albergue. De um gerente de uma das maiores lojas de departamentos de Londres. “Você é do Brasil? Da capital, Rio de Janeiro?” “Não, a capital não é o Rio de Janeiro, é Brasília”. “ah...mudou, é?” (PUTS, ESQUECERAM DE AVISAR VOCÊS?)

Ensaio sobre a CORAGEM

Há uma linha muito tênue entre Coragem e Cara-de-Pau. Explico. Eu fazia parkour. Para dar um simples salto entre um banco e outro, ou, na linguagem do parkour, o chamado precision, tem que ter coragem. Falo porque muitas vezes (a maioria?) eu não tinha. Aí povo vem e fala que eu sou CORAJOSA de, por exemplo, ir passar uma semana sozinha em Praga. Nanana. Sou CARA DE PAU.
Chegar, perguntar e fazer, assim de simples.
Lógico que quando eu cheguei na estaçao de metro de Praga e li numa placa Výstup e vi que não tinha idéia se isso queria dizer:

• saída,
• esquerda,
• direita,
• conexões ou
• ferrou-se, você não fala checo,    

...me deu um frio na barriga. Sabe o que eu fiz? Me desandei a rir. Paciência, desci, segui a placa e.... fui parar no lugar errado. Bom, então ....vamos à....Cara de Pau. Perguntar, pedir ajuda (em inglês, óbveo). Que foi? Vergonha, medo? Bicho papão morreu no dia que descobri que Papai Noel não existe (Parental Advisory: o conteúdo desse blog é impróprio para menores de  12 anos). Depois de dois checos me olharem com cara de quem lhes falava em grego, encontrei um que me explicava como ia para meu albergue - em autobusem, ou ônibus. Algumas paradas erradas depois, finalmente chego ao destino final, que, para supresa minha, fica em frente a uma das maiores agências de comunicação de todo o mundo.


Resumo? Minha cara de pau deixou meu currículo na Oglivy de Praga.
O parkour eu deixei pros meninos mui corajosos.

não me deixe só...

Outro dia vi numa comunidade do Orkut um pessoal comentando que queria companhia para fazer uma viagem para Europa. Não se preocupem. Se tem uma coisa que você acha mais que loja de souvenir é brasileiro. E para ajudar os lonely travelers, resolvi criar uma mini cartilha de como identificar outro brazuca la fora. Veja como é simples:

• calça jeans e tênis branco. Brasileiras são as únicas mulheres no mundo que fazem a estranha combinaçao do jeans skinny com nike shox. Acho que quando lêem que se caminha muito na Europa, pensam que estarão numa esteira de academia, ou que as bicicletas de aluguel de Paris, Barcelona ou Florença são iguaizinhas as de uma aula de spinning.
• saudosismo escancarado. Fácil você encontrar um brasileiro dizendo "ai que saudades do feijão"... "Nossa, mas faz tempo que você saiu do Brasil?" "Ah, dois dias";
• se orgulham do seu time do coração, e vestem a camisa por três dias seguidos, mesmo que o time tenha recém sido rebaixado (eu juro que isso não é uma indireta pra minha irmã usar a camiseta do time dela, ainda mais depois daquela vergon..., tá, tá, parei, não falo de futebol aqui, imagina, ofender quem já está tãooooo magoado) venenooooosa...eee..
  
• cantam alto pelas ruas.
  
• cantam sertanejo alto pelas ruas.
• compram todo o estoque de Red Bull dos mini mercardos - sim, Red Bull chega a ser mais barato que cerveja, cerca de €1,60. A única diferença é que Red Bull é sem álcool;
• idolatram Arnaldo Jabor e críticas como  essa,mas basta estar lá fora para vestir a camisa do Brasil e cantar que é brasileiro, com muito orgulho, com muito amor.

Por fim, meus caros, se nada disso fizer você identificar um brasileiro, adote a tática mais simples e infalível. Dirija-se a um bar, puxe um banquinho perto do balcão e aguarde até ouvir:
 - Excuse me, can I have a CHOPP please?

lá-tinha

Reflexões de segunda-feira.

 Por que diaxos todas as latinhas não abrem como abrem as latinhas de refrigerante?

Eu posso até demorar a me acostumar com o Milho Zero ou a Ervilha Light, mas minhas falanges distais agradecem.

Lá, tinha...

Zi joga!

Essa é pra quem está indo fazer uma viagem tipo mochilão para a Europa. Enquanto a média de idade dos mochileiros brasileiros é de 24, 25 anos, a dos outros "gringos" é algo em torno de 20. O brasileiro em geral espera terminar a faculdade, juntar uma grana, ou mesmo estar nos últimos períodos para fazer essa viagem, enquanto o americano, o australiano, ainda nem embarcaram nessa, ou recém começaram seus estudos. Lógico que a Europa tem muito o que ensinar, cultura riquíssima, e uma viagem sempre tem seus estresses, suas correrias, seus "eu preciso ir ao, eu tenho que conhecer o..". E como tirar proveito dessa cultura, em meio a essa gente mais nova, de outra cultura, e com tanta correria? Se joga. Brinque. Divirta-se. Conheça os lugares que tem vontade de conhecer, e não os que o roteiro manda. Do resto, compre postais. Tire fotos sob o seu ponto de vista. Seja criança. Esqueça da vida. Faça palhaçada. E se alguém te criticar por uma cagada, diga "perdona, es que soy argentino".

Eu quase me rasguei para tentar ser meio ocidental e meio oriental no meridiano de Greenwich. E você, onde vai zi jogar?